sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Apagão, vida e morte





            No final de mais uma tarde Elizângela assistia um de seus programas preferidos na televisão. No quarto Pedro se divertia jogando no seu vídeo-game, enquanto seu irmão Paulo passava seu tempo a conversar com amigos na internet. Tudo parecia transcorrer para mais um dia vivido. Um dia vivido?

- Manhê, faltou luz! Gritava Pedro, que viu seu empenho cair por água a baixo ao passar horas na frente do vídeo-game.
- Desliguem tudo e tirem da tomada! Gritava a mãe da sala ainda sem sair do sofá, pois acreditará que a energia voltaria naquele momento.

             Momento.... o que são momentos? Do latim momentu, pode significar um espaço pequeníssimo de tempo; ápice; instante; lance; conjuntura; valor; importância. Dentre esses olhemos o valor e a importância que Elizângela dava aos seus programas... ou seria a falta deles que levava a assisti-los?

            Passaram dez minutos, vinte, meia hora e Elizângela sentiu que perderá o epísodio de seu programa. Seu filho Paulo deita em sua cama para descançar um pouco.

- Que saco! Dizia Paulo antes de fechar os olhos.

            Seu irmão Pedro, assim como sua mãe, ficou estático na frente da tv e do vídeo-game esperando alguma resposta. Resposta.... Quando não se perguntamos elas existem?
           
            Ao abrir a porta da sala Elizângela escutava barulho de crianças brincando no corredor.

- Que diabos! Como alguém pode deixar essas crianças brincando assim no escuro? Vão acabar se machucando! Dizia Elizângela para si mesma.

            Fato era que além de pensar no perigo que as crianças corriam em se machucar brincando no escuro, não entrava na cabeça de Elizângela o por que das crianças estarem brincando no escuro.

- Por que não brincam assim quando está claro? Continuava a indagar para si.

            Elizângela não conseguia lembrar que era frequente, as crianças serem repreendidas por outros moradores ao tentarem brincar no hall. Sem contar que em diversas vezes as crianças estavam ocupadas com algo..... com computadores, vídeo-games, dvd's e uma incontável frota de eletro-eletrônicos.

- Mas os aparelhos não deviam servir para entreter o ser humano não é? dar alegria? satisfação?
- Não consigo entender.
- Será que ficamos dependentes deles? Por isso tudo tão repetitivo, morto?
- Estou meio confusa... Pensava Elizângela.

            Naquele momento a energia acabará de voltar. Pedro religa seu vídeo-game e volta a jogar. Paulo acorda de seu cochilo, religa seu computador. Elizângela volta ao sofá e religa a televisão. Precisamos religar algo mais?

Por Igor C. de Andrade

domingo, 21 de outubro de 2012

Da nobreza do chorar



      Certo dia andava pela estrada, fazendo umas de minhas viagens, quando vi um garoto a chorar...
Perguntei-lhe se estava precisando de ajuda,  pois chorava tão copiosamente.
Ele somente convidou enquanto chorava para sentar ao seu lado.
Sentei.
E então chorando, ele me falou:
- Se a minha vida fosse um livro... teria escrito nele... pequenos grandes textos, parece comédia né?
E balançando a cabeça confirmando, complementei:
- Poxa, isso só demonstra o quão sensível és! Faltam humildade e alegria nesse mundo.
E então ele voltou a chorar...
Olhei para ele, queria descobrir cada vez mais o porquê de tanto chororô.
Ao parar para respirar, com a voz chorosa, ele continuou:
- Eu já levei muitas cortadas, já me senti escanteado por pessoas em que só queria dar-lhes um simples abraço. E hoje em dia só faço algumas coisas, promessas e luto por alguém quando significa muuuuito, apenas pra mim.
Soltei somente uma palavra:
- Convivência.
E ele abriu um sorriso de lado, mesmo com as lágrimas caindo e me disse:
- Convivência... É exatamente isso que me faz ver as coisas de um jeito melhor. O os acontecimentos terrenos realmente me fascinam e, sobretudo me cativam. O céu lá em cima ta muito carregado, prefiro assim. Você queria saber por quê estava chorando muito?
- Sim sim, eu disse.
E então ele finalmente me respondeu:
- Eu chorava de orgulho, não por ser orgulhoso, longe disso. Por que de tantos anos que vivi, percebo o quão bem pude fazer, o quanto de sorrisos verdadeiros pude trazer, provocar e se tem algo que prezo é o sorriso. Estava aqui chorando por relembrar de tantas histórias realmente cativantes e nas boas lembranças que elas provocam. E se você me der um pouco mais de campainha aqui eu não possa chorar alegremente por esse dia? Lembre-se chorar deve ser encarado como sinônimo de pureza, pois as lágrimas que caem são resultantes do que de fato é amar.

       E então com os olhos quase lacrimejando, pois há muito tempo não sabia o que era chorar, resolvi aceitar aquela pessoa em minha vida, em minhas criações, na arte de conviver. Aproveitando aquele  momento dei mais um passo, um abraço e uma pergunta:

- Vamos comer sushi?

       E ele respondera com uma monossílaba, que naquele momento era melhor do que qualquer livro inteiro de romance.
- Sim.